Tocadas por
uma fada pequenina
Que se
escondera nas flores do jardim
As águas,
que tranqüilas dormitavam
Começaram
seu movimento de festim
De repente,
um jato d’água irrompe
Cresce, se
avoluma e para o céu se ergue
Depois mais
outro, outro mais, mais outro
Se erguem
para espoucar no alto
Jogando
gotas cristalinas de granizo
Aos meus olhos
deslumbrados de criança, ele era o mago dos contos de fadas, que coloria as
águas dançantes. Encantado com a beleza da fonte luminosa alemã de Poços de
Caldas, ele conseguiu, num milagre de criatividade, inventar outra fonte
diferente, mas de igual beleza, para enfeitar as praças de diversas cidades do
Brasil.
E pensar que ele havia
cursado apenas até o quarto ano primário. Aos meus olhos indagadores de
adolescente, ele era o avô dos livros de histórias, nascido no tempo do Império
e dos escravos, que tinha um retrato de Churchill à sua cabeceira.
Eu ouvia com interesse
os casos do seu começo de vida, lá na Fazenda da Água Limpa, em Silvianópolis,
onde trabalhava em um engenho de açúcar. Era tanto o seu trabalho, que ele
adormecia sobre os bagaços da cana, exausto noite adentro.
Depois montou uma
pequena indústria de banha de porco, que era distribuída na região e em outros
estados. Baixinho, sorriso matreiro, era o bom parceiro nas rodinhas familiares
de pif-paf. E ainda tinha o dom de suspender a mesa do jogo apenas com a força
da mente!
Foi um dos primeiros
prefeitos de Pouso Alegre. E como gostava de política! Como participava dos
destinos da cidade! Se vivo estivesse, estaria entusiasmado com o nosso país do
século XXI, com a era dos computadores e com a nossa cidade que não pára de
crescer.
Hoje, aos meus olhos
experientes, sua lembrança me enternece, não mais apenas pela fantasia que
povoou minha mente de criança e adolescente, mas pelo homem íntegro que foi,
exemplo para os seus descendentes.
Homem trabalhador e
honrado, inteligente e bom cumpridor da missão que o Senhor Altíssimo lhe
confiou.
Tenho que reverenciar
meu inesquecível Vovô Tonico com a singeleza da neta que tanto o admirou, enaltecendo
o excelente chefe de uma família que ele, ao lado da sua doce companheira Vovó
Sarah, soube criar.
Seus filhos, netos e
bisnetos e todas as suas gerações futuras são e sempre serão uma metáfora da
sua maravilhosa Fonte Luminosa, que faz emergir jatos coloridos de luz e
beleza.
Ao ver a maravilha da Fonte em funcionamento, o poeta
Menotti Del Picchia escreveu:
“Pensei que
Ravel fosse o único artista que me desse uma plenitude de deslumbramento com
seu líquido multicolor e sonoro “jeu d’eau”. Pensei que somente transformada em
música a vara faiscante de um repuxo tivesse sedução e beleza. A Fonte Luminosa
de Pouso Alegre se incumbiu de mostrar o contrário. Um grande artista a
concebeu. É a coisa mais linda que vi. Parece a criação de um mago. Depois de
um movimento subterrâneo da máquina genial que anima essas formas efêmeras, os
jatos d’água se desfazem. E fica apenas um espetáculo fantástico, um úmido
murmúrio de gotas”.
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