"Árvore
centenária, de sombra onde floresceram quatro gerações; 'Sá Donana' estende sem
esforço os seus galhos e já vislumbra a eternidade".
Sua
semente vem lá de Paraisópolis, da Fazenda do Ribeirão Vermelho, onde nasceu em
1873. Ana Cândida de Carvalho foi a grande mulher, que criou 15
filhos na labuta da fazenda que ela passou a dirigir na falta precoce do seu
companheiro, Antônio Flavio Simões, falecido em 1924.
Formou
filhos corajosos, cada ramo seguindo o seu destino, mas voltando sempre ao
tronco comum. Sua casa foi o centro das reuniões alegres, das confidencias
dolorosas, um infinito abençoar aos filhos, netos, bisnetos e trinetos; a vovó
com seu crochê nas mãos e o terço em cada anoitecer.
Viu
partir, corajosa, um filho, depois outro, e ainda outro, até que resolveu
acreditar na doce mentira: “Zequinha está no Rio, tia Dita está se tratando em
Belo Horizonte e o Vicente foi comprar uma fazenda no Mato Grosso”.
Ah! Como
ela pressentiu seus ramos distantes e como foi sábia na sua candura!
Ana, encarnou
o exemplo bíblico:
“A mulher forte, quem
a encontrará? É como um tesouro que vem de longe, dos últimos confins da Terra.
Ocupa-se com a lã e o linho e trabalha com a destreza de suas mãos”.
Cândida,
conviveu com os escravos, era do tempo dos livros de histórias, sabia versos de
Castro Alves, promovia festinhas no galpão do quintal, pagando aos netos,
arredios à arte, pra recitar e cantar.
Até há
poucos anos relia romances de Delly e histórias sobre a vida de santos. Gostava
de mudar o roteiro das novelas que não tinham um final feliz.
“ –
Filha, me empresta um romancinho bom, porque já sei de cor a vida dos santos
que a Zeca me arruma”.
Gostava
de um joguinho de bingo, da Festa do Rosário, de um pif-paf em companhia dos
filhos, netos, dos amigos.
Certa
vez, interpelada pela tia Zezé – seu anjo da guarda durante toda a vida –
quanto à hora de chegar em casa, respondeu prontamente:
“ – Quem
está chegando? Estou saindo pra missa, menina!”
Partiu
serena; 104 anos de fortaleza não sucumbem ao soprar de um vento mais gelado...
"A
força e o decoro são seus adornos; levantam-se seus filhos e proclamam-na ditosíssima. Ana
Cândida, te bendigo para sempre, por tua vida abençoada, mas, sobretudo, te
louvarei até o fim dos meus dias pelo pai maravilhoso que tive, teu ramo mais
novo que, mesmo ausente, só nos proporciona AMOR".
Ana,
cândida, árvore em fins de maio, regressou ao momento da criação e nos deixa
purificados. Tudo vai recomeçar: ela acabou de nascer!
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