”Bate
outra vez com esperanças o meu coração
Pois
já vai terminando o verão, enfim
Volto
ao jardim com a certeza que devo chorar
Pois
bem sei que não queres voltar para mim
Queixo-me
às rosas, que bobagem!
As
rosas não falam
Simplesmente
as rosas exalam
O
perfume que roubam de ti, ai
Devias
vir para ver os meus olhos tristonhos
E,
quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por
fim".
Angenor de Oliveira, o Cartola, nasceu no bairro do Catete, na cidade do Rio de Janeiro,
em 11 de outubro de 1908. De família humilde, depois de passar cerca de 3 anos
vivendo em Laranjeiras, mudou-se para a Mangueira aos 11 anos de idade, onde
viveu o resto de sua vida.
Estudou
apenas até a quarta série do ensino fundamental e aprendeu a tocar cavaquinho
com o pai. Começou a trabalhar como auxiliar de pedreiro e usava um chapéu para
se proteger do cimento das construções. Daí o apelido de Cartola.
Aos 18
anos saiu de casa e entrou para a vida boêmia. Começou a compor as primeiras
canções e a fazer apresentações em bares, mas tinha que lavar carros para
sobreviver. Depois foi radialista e criou um programa chamado “A voz do morro”.
Casou-se com Dona Zica, famosa mangueirense e grande cozinheira. Com ela fundou o “Zicartola”, restaurante de comida caseira que ficou famoso no Rio, não só pelo tempero de Dona Zica, mas também pelos artistas da época que lá freqüentavam.
Casou-se com Dona Zica, famosa mangueirense e grande cozinheira. Com ela fundou o “Zicartola”, restaurante de comida caseira que ficou famoso no Rio, não só pelo tempero de Dona Zica, mas também pelos artistas da época que lá freqüentavam.
A partir
da década de 1960, as músicas de Cartola finalmente passaram a ser
reconhecidas pelo público e pela crítica. Em uma das suas canções mais famosas,
“As rosas não falam”, uma declaração de amor mesclada com melancolia e
esperança, ele contempla as rosas do jardim, enquanto lembra da amada.
O poeta segue seu lamento em uma cadência sofrida, triste por saber que ela, tratada na segunda pessoa, não quer voltar. A repetição do verbo “voltar” é usada em diferente situações, de forma proposital e intuitiva.
O poeta segue seu lamento em uma cadência sofrida, triste por saber que ela, tratada na segunda pessoa, não quer voltar. A repetição do verbo “voltar” é usada em diferente situações, de forma proposital e intuitiva.
No poema,
Cartola navega ora na realidade, ora no sonho. A expressão “queixo-me às
rosas” é uma metáfora muito original do seu desabafo e
da sua lamentação. Mesmo sabendo que as rosas não ouvem nem falam, o poeta
mergulha no sonho, queixando-se a elas.
Mas logo cai na realidade: “que bobagem, as rosas não falam”. Enaltece sua amada, evidenciando uma inigualável sensibilidade poética ao dizer que as rosas roubam seu perfume e, “por fim”, implora para que ela volte: “devias vir para ver os meus olhos tristonhos”.
Mas logo cai na realidade: “que bobagem, as rosas não falam”. Enaltece sua amada, evidenciando uma inigualável sensibilidade poética ao dizer que as rosas roubam seu perfume e, “por fim”, implora para que ela volte: “devias vir para ver os meus olhos tristonhos”.
E com o
lirismo de “sonhavas meus sonhos”, uma aliteração que embeleza com
estilo e elegância a letra da música, Cartola fecha com chave de ouro esta
verdadeira joia do nosso cancioneiro popular.
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