De repente, um ar
de incredulidade e de espanto toma conta do semblante de toda família: tia Zezé
partira para sempre.
Violeta escondida
no seu cantinho, espargindo perfume a quem dela se aproximasse, Maria José Simões
passou a sua vida a servir.
Cuidou da vovó com
tanto carinho, que sou capaz de afirmar que os cento e quatro anos de “Sá
Donana” foram devidos, em grande parte, a esse amor!
Ensinou muitos
sobrinhos a ler, preparou quase todos para a Primeira Comunhão. Viveu sua vida
cristã edificada no serviço à família, ajudando o orfanato Nossa Senhora de
Lourdes até o fim de seus dias.
Com mais de oitenta
e cinco anos, (sua verdadeira idade sempre foi um insondável mistério) parecia
uma adolescente ao usar um anelzinho de brilhantes com tanta ilusão...
Com a mesma ilusão,
planejava suas sonhadas férias numa praia deserta, para tomar banho de mar.
Um dia destes,
muito compenetrada, comentou com a tia Rosa:
– Precisamos nos
preparar para “começar” a envelhecer...
Mãos de fada, seus
casaquinhos de lã e rendar abrigaram os bebês de toda nossa família.
Ah! Como vamos
sentir falta das douradas roscas que chegavam em bandejas enfeitadas com
orquídeas, por ocasião de algum aniversário ou do Natal.
Dos doces de leite
guardados no armário do quarto, em compoteiras translúcidas. Como vamos sentir
falta da nossa infância, da sua humildade, da pureza de menina, do seu encanto
pela vida, aprendendo inglês com quase noventa anos!
Quem com ela
conviveu, não se conforma com sua partida repentina e inesperada. Mas,
peregrinos que somos desta vida passageira, sabemos que haverá um reencontro
definitivo.
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