ROSA, ROSINA, ROSARELA


     Elegia não combina com você. Elegia evoca tristeza, melancolia, baladas nostálgicas, rosas desfolhadas.
Você lembra orquídeas cultivadas com entusiasmo, no verde do quintal, explosão de cores nas telas e nos bordados que enfeitam tua casa aconchegante.
“Rapid toast” quentinho, toalhas bordadas com arte, sabor de família dos tempos de outrora, sabor de aconchego.
Risada gostosa no papo com sobrinhos, filhos e netos. Confidente amiga, sinceridade à flor da pele, imaginação poderosa que mergulhava os netinhos no mundo do faz de conta.
Você lembra notícias quentinhas, mais rápidas que as da TV. Teu rádio chegava primeiro, com as últimas novidades do noticiário global: esporte, política, cultura.
Conhecidos “de velho” os finais das novelas, tua imaginação andava mais rápido que a do Dias Gomes no Roque Santeiro. Ah, quanta coisa inventavas! Desfechos felizes, conforme tua ótica otimista de encarar a vida!
Campeã dos torneios de buraco e de tranca, roubavas, morrendo de rir, nas partidas contra o tio João Pereira. Mas, ao lado de tanta peraltice e do espírito maroto, você lembra, principalmente, os Salmos de Coragem, como a vovó centenária: “a mulher forte, quem a encontrará? 
É como um tesouro que vem de longe, dos últimos confins da terra. "Ocupa-se com a lã e o linho e trabalha com a destreza de suas mãos".
Rosa, Rosina, Rosarela, assim teu pai te chamava, Francisca Rosa Simões Pereira Beraldo, quase um verso alexandrino.
Comecei querendo escrever alguma coisa alegre, mas sem querer parti para a melancolia, porque a saudade brota fundo e nostálgica, como na elegia:
Vamos embalar as flores?
As flores querem dormir
Já não se escutam rumores
E a noite não tarda a vir.

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