Onde
marcar um encontro naquela cidadezinha, se não naquele jardim suntuoso, com
estátuas de deuses mitológicos e filósofos?
O jardim
é orgulho dos moradores, cartão postal para visitantes. Seu idealizador foi um
amante da cultura grega, que ornamentou tudo com capricho.
Para
Sofia, conhecer um homem de sua idade, vindo da capital, era uma sensação tão
surpreendente quanto amedrontadora!
– Estou
ansiosa, admito que sou muito ansiosa – pensou, esfregando as mãos
suadas, tentando diminuir a pressão de sua ansiedade. Trinta e seis anos,
agrônomo, solteiro, Felipe viera a conhecê-la depois de mais de ano de
convivência virtual.
Conversavam
diariamente pela Internet e sabiam quase tudo a respeito um do outro: ela
conhecia o amor de Felipe pelo campo, pelas flores, pela vida sossegada no
interior. Ele sabia da formatura de Sofia na capital, da morte recente de seus
pais, do noivo sonhado que nunca aparecera, de sua solidão...
Interrompendo
os devaneios de Sofia, Felipe foi se aproximando, sorridente, com um bouquet de
flores campestres nas mãos, tal como nos filmes hollywoodianos!
Ele olhou
ao redor e deslumbrou-se com o encanto da paisagem; flores miúdas espalhavam-se
sobre a terra daquele jardim encantado, colorindo o verde da grama salpicada de
pedrinhas brancas que dividiam as flores. E aquela moça linda, ali,
observando-o.
Aqui, via
um tufo de hortênsias azuis, contrastando com bicos de papagaio e a “primavera”
rosada; ali, pombinhos comendo migalhas, em meio a samambaias que emolduravam
os canteiros. Aquele jardim estava apropriado para um encontro sonhado.
Sofia
olhava para Felipe, emocionada! Enfim chegara o homem que sempre havia esperado.
Ele haveria de tomar conta do sítio! Parece que já o via levantando cedo e indo
para o campo para plantar hortas e jardins, como aquele em que se encontravam.
A vida deles iria ser romântica, deliciosa...
Felipe
gostou muito da moça que o esperava naquela praça. Ele também viera para
plantar um jardim. Estava em seus planos desde o início aquele jardim milionário!
O sol ia
se escondendo. Felipe chamou Sofia para sentarem-se em um banco coberto com
heras emaranhadas em colunas gregas, à beira do lago. Tudo ali lembrava o
passado do povo que escrevia a história do mundo com sabedoria: Sofia!
- Veja,
querida, há de ter um lugar em seu sítio para plantar o meu jardim, se você
concordar. Ficaremos ricos com ele e faremos nossa independência. Correremos o
mundo, criaremos nossos filhos, seremos felizes!
Sofia
olhava-o sem entender, suas mãos suavam e a ansiedade foi chegando ao limite,
até que Felipe, também ansioso, balbuciou: "papoulas, um jardim de
papoulas coloridas, o sonho, o ópio..."
Por um
instante ela pensou em dar as mãos ao jovem e correr para o sítio,
esquecendo-se de tudo.
Mas pela
cabeça de Sofia desfilaram princípios, que desde pequena aprendera a respeitar.
Seu corpo, impregnado do perfume das flores e da sabedoria dos antepassados,
não saía do lugar.
Com
lágrimas rolando pelos olhos, disse adeus a Felipe e foi caminhando em direção
a casa, ao lado de florezinhas lilases, em seu débil alvorecer, deixando atrás
de si o jovem internauta naquele mágico jardim de estátuas gregas...
*
