LEDO ENGANO

Bola... rola
Luar... amar
Brinquedo... arvoredo.

Desde criança Elisa gostava de combinar palavras e de procurar sua essência. Como uma bruxinha, voava em sua vassoura mágica descobrindo as belezas da Criação.
Aqui, uma grama verdinha servindo de alimento ao gado; ali, o mar de vários matizes, com barquinhos e navios. Cá dentro uma vontade incrível de descrever estas maravilhas que Deus criou. Era como um comichão: a cabeça com mil ideias para colocar no papel.
Para fazer as tarefas da Escola, Elisa não sentia o mesmo entusiasmo; gostava mesmo era de escrever e criar textos bonitos!
Sua mãe preocupava-se com seu boletim, sempre azul em Língua Portuguesa, mas vermelho nas outras disciplinas.
– Você deve estudar outras matérias. Poeta não ganha dinheiro. Por que não estuda para se formar em Medicina ou Engenharia?
Naquela tarde, um mês após sua formatura em Letras, Elisa decidiu arrumar um emprego e começou a procurar nos jornais; um anúncio chamou-lhe a atenção:
Editora Vargas necessita de funcionários".
A tarde estava belíssima, com temperatura agradável, o Sol já se escondia no horizonte, quando Elisa decidiu ir à Editora. Caprichou na maquiagem, vestiu um vestido branco, com enfeites azul-marinho.
Ia caminhando vagarosamente, admirando cada detalhe da paisagem, quando avistou a Editora com letreiros luminosos e pensou:
– Como eu gostaria de trabalhar em um lugar assim, rodeada de pirilampos, colocando no papel branco meus sonhos, o sentir do ser humano neste planeta.
Passo a passo, adentrava na sala ornamentada com sofás de cor caramelo e muita, muita folhagem. Ao fundo, um senhor bem vestido deu sinal para que Elisa se aproximasse e lhe entregou um formulário para preencher. Ela foi preenchendo, atentamente, até que leu:
“Cargo que pretende”.
Parou subitamente. O que queria mesmo era escrever poemas, brincar com as palavras, como num quebra-cabeça; escrever os problemas e os sonhos milenares dos homens.
Mas não ousou colocar no formulário o que estava em seu coração.
Poeta não tem os pés no chão, não ganha dinheiro.”
E, lentamente, Elisa escreveu:
SECRETÁRIA”.
A resposta veio pelo Correio, alguns dias depois:
Não foi possível atendê-la. Para lançar a próxima coleção estamos precisando de um jovem POETA”.

                                  *